Roberto Aparecido Alves Cardoso - 16 anos |
por Luiz Henrique Ligabue
Paulo Marques e Champinha aproveitavam o sábado de sol para caçar tatu na mata. Estavam com uma espingarda velha e um facão. Ao cruzar com o casal de jovens, o mais velho perguntou a Champinha: “Quem é a gostosa?” Pelas mochilas, o mais novo concluiu: vão acampar.
Os dois amigos seguiram em frente. Foram tomar pinga na casa de um conhecido, Antônio Caetano Silva, um caseiro já com 50 anos. À tarde, veio-lhes a ideia de assaltar os forasteiros bem-vestidos. Não tiveram dificuldade em encontrá-los. À noite, entraram em ação. Com um golpe de facão, Champinha rasgou a lona da barraca. Marques entrou gritando: “Acorda! Acorda!” Cutucando o casal com o cano da espingarda, perguntou: “Quem aqui é filhinho de papai?” A moça (Liana - 16 anos) respondeu que sua família tinha dinheiro e o rapaz (Felipe - 19 anos) disse que trabalhava. Os assaltantes terminaram a garrafa de vinho aberta pelo casal.
Liana Friedenbach e Felipe Caffé foram conduzidos por cerca de 2 quilômetros até o casebre de Antônio Caetano Silva. Felipe Caffé foi levado para um dos quartos por Paulo Marques. Champinha arrastou Liana para o outro e avisou: “Abaixa a calça que eu vou te comer”. A menina, que era virgem, tremia. Foi estuprada seis vezes pela dupla durante a noite.
Às seis da manhã de domingo, os amigos saíram com o casal, andaram uma hora e entraram numa trilha fechada. Marques ia à frente com Felipe. Atrás, Champinha e Liana. O adolescente ordenou que Liana parasse. Marques, 100 metros à frente, aproximou-se de Felipe Caffé, levantou a espingarda 28 e deu-lhe um tiro na nuca. A morte foi instantânea: o cartucho havia sido carregado artesanalmente com rolimã e bucha de cera.
Paulo Marques foi embora. Champinha e Liana voltaram para a mesma casa de onde haviam saído horas antes. Passaram o domingo ali. Ele voltou a currá-la.
Sentada em um banquinho, de cabeça baixa, nua, ela chorava. Outro amigo se juntara ao grupo: Agnaldo Pires, um alcoólatra barbudo e desgrenhado que vivia de bicos. Champinha lhe explicou o que se passava: “É sequestro, o cara nós matou e essa eu já comi. Ela é gostosa, pode usar”. Pires, de 41 anos, abaixou a calça e atacou a menina. “Não consegui gozar porque estava bastante bêbado”, disse.
Lá ficaram o dia todo. Liana não falou nada. “Nunca ouvi a voz dela”, disse Agnaldo Pires. Antônio Caetano Silva fez comida, café e serviu a todos. Disse que não violou a menina. Champinha e Pires voltaram a agredi-la sexualmente.
Na terça-feira de manhã, o grupo fez Liana andar 4 quilômetros. Foram para a casa de outro conhecido, Antônio Matias de Barros, dono de uma pequena casa perto de um laguinho.
À tarde, Gilberto Cardoso chegou ao lugar, procurando pelo irmão, Champinha. Viera avisar que havia chegado uma intimação policial, e o irmão deveria se apresentar no dia seguinte à delegacia. A polícia queria saber de Liana e Felipe Caffé. O irmão foi embora e, no meio da madrugada, Champinha decidiu voltar à casa de Antônio Caetano. Tomaram café e partiram.
Chegaram lá às cinco da manhã. Beberam outro café e Champinha saiu com Liana. Andaram 3 quilômetros e entraram na mata. Liana ia um pouco à frente. Ao passarem por um riacho, Champinha a chamou. Ela se virou, ele ergueu o facão acima da cabeça e gritou: “Agora você vai morrer!”. O golpe de cima para baixo atingiu o lado esquerdo do pescoço da garota. Ela caiu de costas e murmurou qualquer coisa. Com força, Champinha levantou e baixou a peixeira sobre ela diversas vezes. Liana conseguiu se virar e recebeu vários golpes nas costas. Uma pancada chapada, com o lado sem gume do facão, provocou o traumatismo craniano que terminou de matar Liana.
Roberto Aparecido Alves Cardoso, um adolescente franzino de 16 anos, cujo rosto é marcado pelos lábios grossos e uma protrusão dentária que o deixa bicudo. A mãe de Roberto, Maria, é dona de casa. Seu pai, o caseiro Genésio, aposentou-se por invalidez quando teve um derrame cerebral. Roberto Cardoso, que sempre teve dificuldade de aprendizado, deixou a escola no quarto ano do ensino fundamental. Ganhava 150 reais por mês e mais algumas diárias de serviços rurais. Gostava de andar no mato, caçar, fumar, frequentar bares e, vez ou outra, dançar forró. Era tido como encrenqueiro. Em 2001, se envolveu no assassinato de Liberato de Andrade. Numa rixa, deu-lhe duas facadas. Todos o chamavam pelo apelido, Champinha.
ANTES DE DIZER QUALQUER ASNEIRA CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL, PENSE TALVEZ, QUE VOCÊ TENHA NA FAMÍLIA UMA AFILHADA, OU IRMÃ, OU SOBRINHA, OU PRIMA OU AMIGA OU FILHA, QUE PODERIA TER PARADO NAS MÃOS DE UM MONSTRO ASSASSINO "DE APENAS 16 ANOS" COMO ESTE MALDITO CHAMPINHA.